Nossa História

Por Maria de Lourdes Lemos

Uma publicação que desejasse falar de Caxambu nos seus 172 anos de existência (1843-2015) deveria bem dar idéia das diversas etapas de sua história e dos homens que ajudaram a moldá-la. Lá estão o Parque, as fontes, o morro de Caxambu, o bosque, a Avenida, os hotéis, as charretes, os cavalos e a natureza com o céu azul, sem uma nuvem, o ar puríssimo de montanha, a calma bucólica da localidade.

 Estudando a história  dessa estância, torna-se interessante saber  quem foi o pai de Caxambu? Nos dias de hoje  seria como perguntar “quem foi seu pai biológico”? Sim, pois o arraial teve vários pais cujas mães eram as terras férteis que abrigavam suas águas curativas conhecidas  como “Águas Santas”. Quem  descobriu  o uso das águas, quem pesquisou suas nascentes, quem incrementou seu comércio, quem cuidou das mazelas e doenças  de seus habitantes, quem o urbanizou e todos que participaram de sua emancipação?

 Seguindo as leis territoriais e geográficas,  que no caso substituem a biológica, o  pai de Caxambu é Baependi, em cuja região ele nasceu, se emancipou  e onde corria o sangue português que até aquele momento era o dono das nossas terras.

 O segundo pai, o verdadeiro, aquele que o criou e cuidou, foi o português João Constantino Pereira Guimarães que teve como padrinho mentor o fazendeiro João de Oliveira Arruda, de Barra Mansa.

 Uma vez a cidade nascida,  João Constantino teve vários amigos e sócios que o ajudaram a  implantar as bases para o uso e para a comercialização das “Águas Virtuosas de Baependi”. Entre eles, José Nogueira de Sá, Antonio Teixeira Leal, Germano de Oliveira Mafra.

 Crescendo bem cuidada, Caxambu foi se transformando  na bela estância hidromineral mineira  fadada ao turismo, com  tratamento de saúde pelo uso das águas minerais naturais, com belas caminhadas e lindos morros verdejantes que transmitem  tranquilidade e paz .

 Com o passar do tempo,  uma rede de hotéis surgia atendendo  os numerosos aquáticos que iam à procura de cura para seus males. E foram sendo construídos  os primeiros hotéis, entre eles o do  Ignácio Ribeiro de Carvalho Chaves, o do José  Luiz da Silva Prado que se transformou no correr dos anos nos Hotéis Nogueira de Sá, Hotel de Caxambu, Hotel João Carlos, Hotel da Empresa das Águas de Caxambu, Parque-Hotel. Outros existiram  como os hotéis, Oliva, Fonseca, Duble, etc.

O mês de agosto de 1884, é um marco para a hotelaria caxambuense. Naquele ano, Evaristo Nogueira de Sá fundou o Hotel Caxambu, na rua Major Penha no mesmo local onde se encontra até hoje. Atualmente ele é o hotel mais antigo da cidade com 128 anos atuantes, ininterruptos,  na rede hoteleira.

          Chamo a atenção para o fato da cidade ter tido dois hotéis com o nome de Caxambu; o primeiro deles era o Hotel de Caxambu e pertenceu a João Carlos Vieira Ferraz que existiu até 1883 quando mudou o nome para Hotel João Carlos; o segundo, é o atual Hotel Caxambu de propriedade da família Chalem Gadbem.

          Numa estância, o conjunto das  moradias, as construções antigas ou modernas, os parques, as fontes, os  jardins, enfim toda uma cultura material que se mostra aos olhos de quem sabe ver e apreciar,  transforma o conjunto urbanístico num interessante livro onde ficam arquivadas a história  do lugar, de seus habitantes com seu modo de vida, do cotidiano, das inúmeras informações contidas em seus prédios, nas ruas e no  povo de uma maneira em geral.

          Seguindo esse pensamento, os hotéis são compêndios onde está  registrada a vida da cidade. Eles vivenciam os  acontecimentos no dia a dia. E o  Hotel Caxambu é o nosso decano que faz parte das raízes da urbe. Apreciá-lo, falar dele é relembrar e aprender a história desse rincão hidromineral do Sul de Minas.

           Como era Caxambu no início da década de 1870? O cel. Fulgêncio de Castro publicou em 1873 um trabalho Guia para uma viagem às águas medicinais de Caxambu no município da cidade de Baependi província de Minas Gerais acompanhada de uma breve notícia sobre a povoação e de esboço histórico das mesmas águas, ed. Typ. de H. Pinto. Na página 14  comenta que em Caxambu há quatro hotéis , a saber, o Fonseca, o União, o Oliva e o Nogueira de Sá. Explicita que o primeiro fica na entrada do povoado, o segundo está na extremidade oposta e os outros dois, ficam perto das fontes. Diz, ainda, que na época contavam-se 78 casas cobertas com telhas.

           Sobre esses hotéis, é interessante recordar que o Fonseca era o antigo hotel do Chaves que foi o primeiro da região no tempo das Águas Virtuosas de Baependi.Era uma casinha coberta de capim e logo melhorada, tendo o assoalho forrado de esteira de taquara; esse hotel existiu durante muito tempo na atual  rua dr. Viotti, no local onde hoje está o Grande Hotel, tendo em 1870 mudado de proprietário, passando a chamar-se  Hotel Baptista Candido da Fonseca.

           O Hotel União ficava nas imediações do atual  Largo da Matriz. O Hotel Oliva estava situado perto da base do Morro da Cruz. O Hotel Nogueira de Sá, que depois mudou para  Hotel de Caxambu, ocupava a área do atual Supermercado Carrossel.

           Foi esse Hotel de Caxambu que, em 1877, aparece no trabalho de Félix Ferreira publicado na Imprensa Industrial, Revista de Literatura, Ciências, Artes e Indústria, no Rio de Janeiro, sob o título Pela Província de Minas com o trabalho Guia das Águas Minerais de Caxambu  onde, na página 27, há o anúncio do dr.Meirelles Enout dando seu endereço distando cinco minutos do Hotel de Caxambu  e na página 39, a propaganda do Hotel de Caxambu, de João Carlos Ferraz.

           Outro trabalho intitulado Guia de Viagem às Águas Minerais de Caxambu, de autoria de J.Tinoco, publicado em 1881, relata às páginas 32 que existem dois hotéis em Caxambu denominados Duble e Caxambu, este último de propriedade de João Carlos Vieira. Trata-se, ainda dessa vez, do Hotel de Caxambu.

           O povoado crescia e novos hotéis foram aparecendo. Dentre os proprietários dos estabelecimentos, Evaristo  Nogueira de Sá, do Hotel Caxambu, destacou-se pelo modo como sabia ganhar a freguesia    conquistando os hóspedes que voltavam sempre e a propaganda era feita por eles. Todos permaneciam fiéis ao hotel. Vejamos alguns fatos sobre ele.

           O jornal O Baependiano, datado de 9 de agosto de 1885, publica uma carta de agradecimento a Evaristo Sá, da parte de  Damaso Barbosa da Silva, de Barra Mansa, pelas mil finezas com que foi obsequiado nos dias em que esteve hospedado no hotel.

           Em seu livro Caxambu de ontem e de hoje, Pongetti, RJ, 1957,  a escritora Alexina Sá conta que o dr.Henrique Monat (1855-1903), médico,  autor do livro Caxambu”, Luiz Macedo, RJ, 1894,   era um dos hóspedes assíduos do Hotel Caxambu cujo proprietário,  Evaristo, era seu amigo de longos anos. Naqueles tempos, ter água encanada  nos estabelecimentos era um luxo, e o Caxambu o tinha.

           Mas uma tarde, seu Evaristo foi surpreendido por um vozerio vindo do apartamento do dr. Monat; indo até lá, encontro-o nu,  todo ensaboado debaixo do chuveiro que não saía  uma só gota d´água.

           Rindo muito da cena grotesca, a solução foi mandar um negro atirar-lhe um balde d´água a fim de desensaboá-lo.

           

Entre os membros da família Nogueira de Sá um dos filhos do seu Evaristo teve destaque relevante, foi Raul de Noronha Sá, político, primeiro prefeito da cidade de Cambuquira, em 1909, deputado atuante em assuntos pró Caxambu, deixou entre suas obras a Estrada Areias-Caxambu, iniciada em agosto de 1936 e inaugurada em 12 de abril de 1939 com a presença do então presidente Getúlio Vargas e que é a atual estrada de rodagem Rio-Caxambu. Morava em frente ao Hotel Caxambu onde hoje funciona o Supermercado Eldorado.

           No Jornal  Gazeta de Caxambu, de 1 de abril de 1900, n◦ 49, na página 4 há um anúncio do Hotel Caxambu, de propriedade  de Evaristo A. Nogueira de Sá.

           Durante o governo de Campos Salles (1898-1902), o deputado estadual José Pereira de Seixas foi a Belo Horizonte para os trabalhos do Congresso Mineiro. Um dos colaboradores do jornal caxambuense O Movimento deu a seguinte notícia: “Vai o coronel Seixas a esta Capital que ilustra a Europa, ver o mar, os peixinhos e a civilização de perto”.

           Olavo Bilac, que nessa ocasião estava em Caxambu hospedado no Hotel da Empresa, foi ao Hotel Caxambu, arrendado então a Antonio Silva, e tomou conhecimento da notícia. Achou-a tão extraordinária que levou-a junto com outras para seu Cofre de Asneiras que mantinha em sua coluna, num jornal carioca.

           A Gazeta de Caxambu, de julho de 1924, noticiava a compra do hotel pelos sócios Antonio Marques da Costa e Coronel Joaquim Teixeira de Andrade, acrescentando que todos os quartos tinham campainhas e iluminação elétricas.

           A revista Caxambu, de abril de 1928, anunciava a seus leitores que o Hotel Caxambu fora adquirido pelo ex-arrendatário do Hotel Rezende, sr. José Augusto Rezende, e que dentre as diversas reformas por que passou o grande prédio destacavam-se a instalação de água corrente na maioria dos seus aposentos e o aumento das instalações sanitárias.

           O Hotel recebia hóspedes que eram cativados pelo bom tratamento dispensado a eles e sempre retornavam para nova temporada de tratamento pelas águas minerais.Os acontecimentos sociais também encontravam no Hotel o ambiente ideal para comemorações. Assim, quando em 1932  o céu de Caxambu viu pela primeira vez um avião, foi no Hotel Caxambu que todos participantes do acontecimento ficaram hospedados. A comitiva era liderada pelo honrado caxambuense então 1º Tenente-Aviador Martinho Candido dos Santos.

           As janelas do antigo salão de refeições davam para a rua Major Penha e o movimento na calçada com todas as moças da cidade tentando ver os rapazes foi  de tal ordem que a gerência teve que manter todas as janelas fechadas para  sossego e paz de seus hóspedes.

           No início da década de 1940, o Hotel pertencia à  Empresa de Águas de Caxambu que  adquiriu, também, o imóvel na Praça 16 de setembro, onde hoje está instalada a Prefeitura Municipal. Esse imóvel passou a ser uma continuidade do Hotel e chamou-se “Anexo Caxambu”.

           Na segunda metade da década de 1940, o  cantor e ator caxambuense Ivon Curi (1928-1995) fez seu teste, para ingressar na Rádio Nacional do Rio de Janeiro, no salão do Hotel Caxambu, onde havia um piano cujo pianista da terra, Moacyr de Oliveira, executava lindas melodias durante as refeições dos hóspedes.

           A Empresa de Águas de Caxambu administrou o Hotel e o Parque até 5 de abril de 1973, ocasião em que  a Hidrominas assumiu os trabalhos. De 1943 a 1973, o Hotel da Empresa esteve sob a administração dos diretores da Empresa, drs. Cylio da Gama Cruz e Caio da Gama Cruz. Após essa data o estabelecimento foi vendido, em 1975, para a família  Chalem Gadbem que vem investindo numa reforma moderna           aproveitando os jardins internos e os pátios do prédio antigo para construir a  piscina, bar e sala de recreação, saunas, salas de jogos e de televisão,  novo salão de refeições, salão de convenções e outras modernidades que os tempos atuais exigem de um hotel atuante como é o Caxambu.

           Os povos orientais tratam as pessoas idosas com o maior respeito porque elas são uma biblioteca ambulante pelos conhecimentos adquiridos no correr da vida. Conforme ficou exposto no início do trabalho, os hotéis antigos também são uma biblioteca por toda experiência de vida que guardam estampada em sua  arquitetura, em suas paredes, no mobiliário, nos quadros, nas louças, na disposição dos móveis, no piso,  na sucessão de seus proprietários e  respectivas famílias, nas histórias dos hóspedes, nos estudos dos costumes de cada época, nas inovações e modernidades necessárias para que o estabelecimento acompanhe o progresso dos tempos, etc.

           Ao discorrer sobre o  Hotel, falei de fatos e dos primórdios da cidade inerentes a ele e que serviram de narrativa da formação de sua sociedade. Grande  parte da antiga construção hoteleira  ainda está de pé servindo de páginas para todos que queiram ler a história dessa interessante  e encantadora estância hidromineral mineira escrita e preservada em seu Hotel  secular num compêndio contando 128 anos de bons serviços prestados à cidade.

           Esta crônica é minha homenagem ao hotel que hospedou muitas vezes  meus pais por ocasião das festas, das horas literárias e dos concertos que faziam parte das atividades intelectuais oferecidas aos hóspedes.

           Parabéns Hotel Caxambu e família Chalem Gadbem.

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